Recentemente voltei a ler Martha Medeiros, especificamente Doidas e Santas (2007). Lembro-me quando comprei, tinha uns 15 anos. Abri o livro pensei "que espécie de minis historias são essas?", mal sabia mas a partir da li me apaixonaria por crônicas.

Na crônica A janela dos outros, leitura recomendadíssima, Martha cita uma historia do livro Os desafios da Terapia de Irvin Yalom. Apaixonada por psicologia como eu, ela mergulha neste universo contando um relato real de uma das pacientes de Irvin, uma mulher que tinha um relacionamento difícil com seu pai.

Em uma das tentativas de reaproximação, decidem pegar estrada juntos. Enquanto dirigia, seu pai dizia que o córrego, que beirava a estrada, era sujo e depredado. Ao olhar pela sua janela, ela via um lindo córrego, com águas limpas e claras. Naquele instante pensou em como seu pai tinha uma visão disturbada de tudo, via sempre o lado ruim das coisas e nunca enxergou o o lado positivo da vida.

Alguns anos depois da morte de seu pai, a paciente decidiu realizar a mesma viagem com sua amiga, agora, no lado esquerdo do carro, dirigindo. Por mais irracional que pareça viu o mesmo que seu pai,  sim, de um lado o rio era bonito e do outro depredado. Ambas opiniões, neste caso, eram realidade e verdade.

Como na teoria popular do copo meio cheio - meio vazio, nem tudo é apenas sobre analisar o lado positivo ou negativo de uma situação, é identificar que os dois existem, que ambos deverão ser vistos e não apenas enxergados. O cientista Masataka Watanabe explicou, enxergar é apenas observar, sem analisar, sem avaliar, agora ver é depositar atenção e critica sobre aquilo que está adiante de seus olhos. 

Salvador Dali